domingo, novembro 01, 2015

CASIO CA53W1Z - O retorno de um clássico oitentista




Sincronize seus relógios. 

O futuro está chegando...



Todo mundo deve se lembrar da popularidade dos relógios com calculadora, nos anos 80 e 90, graças ao sucesso de público conquistado pela linha Casio Databank durante a era gloriosa do nerdismo – tempos dos Video Games, aparelhos de rodar K7/VHS, os primeiros computadores e celulares pessoais, alguns elementos ancestrais da nossa obsessão tecnológica. Tudo isso naquele universo icônico oitentista, roupas coloridas, o Ray Ban Wayfarer, os jogos 8-Bit, a música Pop/New Wave, os cabelos com mullets, o cubo mágico de Rubik, os filmes de adolescente de John Hughes, dentre tantas outras referências...

Os anos 80 construiram um legado cujos ícones nos influenciam até hoje. Não dá para pensar na época sem mencionar o boom dos relógios Casio, uma importante organização internacional que surgiu em 1946 e foi responsável por lançar a primeira calculadora elétrica e compacta em 1957. A marca também foi pioneira por ter lançado um dos primeiros relógios eletrônicos de pulso, o Casiotron de 1974, e relógios adaptados contra choque mecânico e perfeitos para esportes pesados, caso do primeiro G-Shock, em 1983.
Vamos dar uma espiada hoje nas curiosidades por trás da história de um dos relógios mais hipnotizantes da marca. Nada mais justo do que aliar as duas grandes armas da empresa para criar um relógio digital com calculadora. Eles eram conhecidos pela linha Casio Databank e permitiram uma revolução para o relógio de pulso: o armazenamento de informações. Relógios com calculadora já existiam desde os anos 70, porém a Casio diversificou os modelos e expandiu sua funcionalidade aliando a calculadora ao armazenamento de dados - o grande conceito do Databank.


Caixa compacta e elegante do modelo ao qual dedico este texto:
Casio CA-53W-1Z.


O primeiro Databank Calculator Watch foi o CD-40, lançado em 1983. Multifuncional e dinâmico, este modelo permitia o uso de calculadora, alarme, cronômetro e o bip a cada hora corrida. Em 1984, a Casio lançou o modelo cujo design seria o grande sucesso de sua década, o CA-50. Ícone de nerdismo que apareceu posteriormente no pulso de inúmeros artistas e já foi re-desenhado inúmeras vezes, provando que não sairá tão cedo do gosto dos colecionadores. Para conferir outros modelos da mesma década, clique aqui.


Poster de divulgação do filme Back to the Future II

Um dos momentos ilustres para o modelo CA-50 foi quando o personagem Marty McFly aparece usando o relógio na trilogia de Robert Zemeckis - "Back to the future", 1985. Com a popularidade deste que é no Brasil um clássico da sessão da tarde, o relógio ganhou cada vez mais o fetiche de um acessório de estilo, compondo a ideia principal da trilogia: um garoto que atravessa o tempo - ele é descolado e cool.

Marty McFly é o garoto exemplar numa época caótica. Ele vai precisar de utilizar o tempo para resolver as peripécias de uma aventura na qual se meteu sem nem perceber. McFly e seu amigo Doc, um cientista amalucado e criador de uma máquina do tempo, vão parar nos anos 50. Na parte II, eles vão para o futuro e, na parte III, encontram-se no velho oeste. A parte curiosa disso tudo é que a representação do futuro para esta trilogia de Spielberg e Zemeckis se dá em 21 de outubro de 2015. Está bom para vocês, ou querem mais?

Assim como a narrativa dos filmes preza por duas instâncias de tempo diferentes, o Casio Calculator Watch que Marty McFly utiliza para contar o tempo possui a função DT, o Dual-Time, uma maneira de armazenar simultaneamente dois contadores de tempo: uma curiosidade nerd e tanto.


Cenas de Back to the future, 1985: Marty McFly e seu Casio CA-50.

A notícia boa para os apreciadores é que a Casio continua fabricando o relógio com fidelidade ao original, a diferença é que agora o re-lançamento responde pelo código de CA-53W-1Z, possui poucas diferenças do seu original, o CA-50, uma delas é o fato de ser à prova d'água - apenas respingos e chuvas leves, nada de mergulho. Além disso, há alguns detalhes no design da pulseira e as cores de algumas informações no teclado que mudaram sutilmente. Tirando estes detalhes, a impressão é de voltar no tempo com um relógio que vai ter aquele cheirinho de plástico novo.

A figura abaixo é uma referência de ambos modelos para comparação. CA-50 à esquerda, o modelo de 1984.
CA-53 à direita, o modelo fabricado atualmente, com a marcação WR - Water Resist, no canto superior direito.




Consegui adquirir o CA-53 por um preço bom na Walmart. Recomendo que procurem nas lojas brasileiras, pois assim será possível receber o cupom com a garantia de 12 meses para qualquer assistência da Casio em território nacional. No Brasil, o preço do relógio pode variar entre R$120-190, dependendo da loja. Na Amazon, ele custa entre $14-20, apenas.

Confiram abaixo as principais funções deste modelo:

Instruções...

Marcação nº1 - Este é o botão MODE. É com ele que podemos trocar de tela no visor para conferir todas as possibilidades que o modelo permite. Para mudar o "modo", pressione-o.

Marcação nº2 - Este é o botão SET/ADJUST. É com ele que podemos configurar a hora e o alarme.

Rosa - Botão utilizado para adição (+) e para começar o contador do cronômetro.
Verde - Botão (zero), na calculadora, utilizado também para zerar o contador do cronômetro.
Azul - Botão (quatro), na calculadora, utilizado também para ligar/desligar alarme.
Vermelho - Botão utilizado para multiplicação (x) e para ligar/desligar o bip a cada hora corrida.
Amarelo - Botão utilizado para divisão (/) e para conferir data (ano/mês/dia), no modo de hora padrão.
Todas estas funções do CA-53 são muito fáceis de serem acessadas. É um relógio simples, dinâmico e estiloso. Quando apertamos o botão MODE pela primeira vez é a calculadora que vemos logo em seguida, uma boa opção para contas simples do dia-a-dia. Mudando novamente, a tela seguinte é o alarme, facilmente ajustado com o botão SET/Adjust e depois acionado apenas com o botão (4). Depois do alarme, temos o DT - Dual Time, que serve para armazenar um outro horário que vai correr de maneira paralela ao visor de hora padrão, uma boa opção para quem quiser registrar a diferença de fuso horário de outra cidade ou país. Isso é possível com o DT. Saindo do DT, a tela que segue é o cronômetro, facilmente utilizado com a tecla (+) e o botão (zero). Apertando o botão MODE novamente, voltamos à tela inicial. Simples, não é? Vale lembrar que ambos os formatos 12h e 24h estão disponíveis, basta fazer sua escolha no momento da configuração da hora.

UNBOXING

Logo após a retirada do lacre, visão interna da caixa preta.




Dentro da caixa, encontramos coisas importantes. Essa é a papelada inclusa: uma etiqueta no relógio indicando autenticidade (fotos da esquerda), o cartão de garantia e o manual de instruções, traduzido em diversos idiomas.

Depois de aberto, a primeira coisa que queremos fazer é ajustar a hora. Lembre-se de dar uma passada de olhos no manual, não custa nada. De qualquer forma, trata-se de um modelo clássico e o funcionamento dele é simples, ou seja, dificilmente algo dará errado. Este é, de fato, o charme do Casio CA-53. É elegante e objetivo, como aquelas peças de roupa preta ou um bom par de jeans, nunca envelhecem.


Espero que o post ajude os leitores indecisos a conhecer melhor do que se trata esta pérola - o Casio CA-53W-1Z e a pesquisar mais sobre esses aparatos fantásticos que funcionam como verdadeiras máquinas do tempo para nós, nostálgicos. Até a próxima !

GREAT SCOTT!!! Até o renomado economista Milton Friedman
tinha uma paixão pela Casio...

domingo, março 02, 2014

BERLIN ALEXANDERPLATZ - 13 partes e 1 epílogo

É uma experiência quase transcendental e uma das melhores coisas que a televisão já viu. 
Berlin Alexanderplatz (1980) é uma produção de quase dezesseis horas que comporta o universo místico da Alemanha de Fassbinder, louvando a grande questão da sua obra – a pessoalidade do artista enquanto identidade estética e ideológica.



Entre leituras de “A Anarquia da Fantasia” (1988), a seleção de textos, entrevistas e ensaios de Michael Töteberg sobre a carreira deste grande artista, há um rico acervo de detalhes sobre os meandros sinuosos da relação de Fassbinder com a obra de Alfred Döblin. Fica claro que a leitura do livro de Döblin, o ponto de partida à produção desta série televisiva, influenciaria profundamente o seu posicionamento, no que diz respeito ao trabalho biográfico e à sensibilidade na construção de seus personagens.

Fassbinder conta que a maneira com a qual Döblin apresenta aquela complexa relação entre Franz Biberkopf e Reinhold lhe estimulou uma identificação, acima de tudo por existir uma compreensão e um acolhimento diante destes indivíduos pela própria construção da narrativa que não lhes acusa, nem mesmo quando apresenta suas falhas. Franz e Reinhold se amam e não compreendem este amor. Este sentimento recusado entre eles dispensa caracterizações de gênero ou de grau, a emoção que corrói os dois é como qualquer outra, mas não é aceita. É justamente a recusa dela que se impulsiona uma disputa entre eles, brilhantemente representada no epílogo, um sonho de duas horas apresentado como uma mistura entre Fassbinder e Döblin. Aqui onde as duas vozes se cruzam e os dois personagens aparecem no centro de um ringue, a composição teatral consegue com todos seus elementos valorizar ainda o subjetivo, graças inclusive ao potencial do texto narrado.


Surgem, então, a voz de Douglas Sirk e a influência sirkiana no trabalho deste “anarquista romântico”. Fassbinder teria se referido assim a si próprio numa entrevista sobre os elementos de seus filmes e o cruzamento do cinema com o teatro em sua obra. Ele cita Sirk que comenta o potencial da iluminação como ferramenta ideológica de um diretor. Sirk dizia que não podemos fazer filmes sobre coisas, senão filmes com elas. Com pessoas, com amores e medos, com roupas, com cores. Fassbinder acreditava na forma do cinema sirkiano mostrar um leque de sentimentos diferentes e todos eles que florescem da denúncia social e revelam uma função crucial do cinema a seu ver – proporcionar ao espectador a possibilidade de analisar a sua própria situação graças à situação de outro.

Só que Fassbinder não tinha um sistema de estúdios nas suas costas e, mesmo sendo grande admirador da personalidade de Sirk que ultrapassava as rédeas hollywoodianas, desejava tornar a coisa mais obscura e refletir ainda mais os dissabores da vida. Sua vontade é de fato chutar o pau da barraca, fazendo seus personagens perderem o corpo, a casa, o pudor diante das estruturas sociais nas quais estão inseridos. Sem medo do choque, pois ele move e provoca à reflexão o espectador. No entanto, sua frieza clássica não acusa e não julga seus personagens. Fassbinder nos deixa capazes e livres para tomar este papel. Ele acreditava profundamente na sensibilidade pelos outros, independentemente de quem fossem. Sua herança teatral e sirkiana do melodrama singularizaram e imortalizaram um universo de realismo poético que pode ser finalmente concebido como fassbinderiano, especialmente por entregar-se àquilo como se fosse outra história de sua vida.


Eine Liebe, das kostet immer viel.


Franz Biberkopf é um personagem a ser dito – assassino, criminoso e cafetão. “E as mulheres são o meu mau”, confessa o desafortunado Franz, entre delírios de cerveja e kümmel. E além de tudo e de todos, Franz ama, sofre e enlouquece. Sai de uma prisão chamada Tegel, depois de cumprir a pena por ter matado Ida. Logo no início, ao deixar o cárcere, os barulhos de Berlin lhe deixam apavorado com a ideia de retornar a sua vida, mas isso precisa ser feito. Então, herr Biberkopf promete a si mesmo de endireitar e levar uma vida honesta. Até que trabalhando como jornaleiro, encontra Reinhold, aquele que vai leva-lo de volta às mulheres e entenda levar como nada além de um convite que era já pré-disposto a ser aceito. Franz arrumava confusões, uma atrás da outra, passando por uma associação de crime organizado, perdendo o braço e sofrendo a morte de sua amada Mieze.




Tudo parece tão bem disposto e os elementos da trama coexistem com a mesma naturalidade que a fascinante personagem de Brigitte Mira espia a vida do nosso protagonista e com a competência dramática brilhante de Hanna Schygulla. O amarelado da direção fotográfica é tão simbólico como o amarelo do pássaro de Mieze, detalhes zelosos do cuidado estético fassbinderiano, ali tem tudo – nos enquadramentos, nos closes de espelho e na maneira como a imagem fica surreal quando aproxima da luz onírica advinda da janela. O efeito surreal destas sutilezas revelam o interior mais obscuro de seus personagens, auxiliado pelo uso da narração em off. E a gentileza deles também é vista, a cena antológica de Franz que numa canoa com Mieze movimenta dois remos com um braço, a sequência revela a força emocional por trás da elegância estética deste filme em treze capítulos e o epílogo, um espetáculo à parte que mistifica o inconsciente de seu personagem, criando imagens de anjos, desejos, loucuras e até da morte. O valor imagético de Berlin Alexanderplatz é hipnotizante e acima de tudo agora, depois de ter sido remasterizado em 2007, poderá ser levado em grande estilo a provocar as futuras gerações.





"A vida é demasiadamente curta
para a eternidade das emoções..."

BERLIN ALEXANDERPLATZ